quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Filme sobre a Casa das Minas será lançado nesta quarta-feira em São Luís


Por Manuel Santos, Jornal Pequeno


Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Casa das Minas é um dos mais antigos, respeitados e expressivos terreiros de todo o Brasil. Sua riquíssima história recebeu recorte em documentário cujo título é “Casa Das Minas – Os voduns reais de São Luís” que terá lançamento nesta quarta-feira (15), às 19h, em sessão especial, aberta ao público, no Cine Praia Grande, situado no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande).
O filme com duração 85 minutos tem narrativa com base na pesquisa a partir da obra de Hubert Fichte (1935–1986), que, trinta anos atrás, vivenciou o templo e escreveu suas impressões no estilo “etnopoesia”, tornando-se um clássico da literatura alemã.
Pela primeira vez, houve permissão para o registro de alguns dos ritos cerimoniais e cânticos em língua africana, únicos da Casa das Minas. O filme traz depoimentos das chefes espirituais da Casa – juntamente com o professor e antropólogo Sérgio Ferretti – que contam a comovente trajetória do templo, desde a sua fundação, passando por perseguição e submissão até os dias de hoje, com a perspectiva para a transformação da Casa em museu.
A obra mostra o manejo consciente das duas “vodúnsis” com o declínio do culto, ao qual elas dedicaram e dedicam toda sua vida. Devido às conseqüentes mudanças sociais em contraponto aos rígidos preceitos de devoção e retidão espirituais, elas abdicaram da continuidade. O culto e os complexos conteúdos da religião irão perecer com suas derradeiras filhas-de-santo.
“Casa Das Minas – Os voduns reais de São Luís” é um filme de Edith Leimgruber, Hili Leimgruber e Jens Woernle, suíços, que conquistaram a confiança dos membros da Casa das Minas, graças a uma estreita amizade, cultivada há quase 20 anos. “Estávamos cientes do dilema entre curiosidade e respeito pela opção de isolamento feita por elas, tratamos com muito cuidado a idéia da realização do filme. Entretanto, durante nossa pesquisa para o mesmo, pudemos perceber que também por parte da líder espiritual Dona Deni, existe um crescente interesse na divulgação de um legado filmado, o que tornou esse projeto possível”, afirma Edith Leimgruber.
Transcendência da pessoa (quando seu corpo é apoderado pelo vodum), coexistência do cristianismo e das religiões africanas (sincretismo); ambivalência do sistema de tratamento médico-psicológico, tanto através da manipulação de ervas quanto dos assentamentos e invocações; e a controvérsia da fidelidade à tradição junto à conscientização da própria morte; são assuntos pertinentes neste trabalho.
A Casa das Minas foi fundada no início do século XIX por africanos escravizados da etnia Jeje, Ewe ou Eoué, procedentes do Daomé, atual República do Benin, que a denominavam de Querebentã de Zomadonu. É considerado um grupo fechado, de grande fidelidade à própria tradição, e mesmo com o passar dos anos, não existe concessões e nem adequações à vida e ritos do culto às diferentes épocas.
É o terceiro do Livro de Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao lado do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho Ilê Axé Iyá Nassô Oká, tombado em 1987, e do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em 1999, ambos de Salvador (BA).
  

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